segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Veja e Reflita

















quinta-feira, 25 de setembro de 2008

RESPEITAR O ANIMAL: DEVER OU FILOSOFIA

Adaptação de um texto de Tom REGAN

Os animais não humanos que os homens comem, utilizam para a ciência, caçam, capturam e exploram de diferentes maneiras têm uma vida própria que lhes confere uma importância independente da utilidade que eles têm para nós. Eles não estão apenas neste mundo, eles são conscientes do mundo. O que eles sofrem, lhes dizem respeito. Cada um dentre eles conhece uma vida que transcorre bem ou transcorre mal.

A vida dos animais, assim como a dos homens, abrange uma multiplicidade de necessidades biológicas, individuais e sociais. A satisfação dessas necessidades é uma fonte de bem-estar e sua frustração uma fonte de dor. Também os animais não humanos que habitam os laboratórios, as fazendas ou os comércios exigem fundamentalmente as mesmas necessidades que os seres humanos propriamente ditos.
Conseqüentemente, a ética que deve governar nossos contatos com os que nós chamamos, às vezes, nossos “irmãos inferiores” deve apoiar-se nos mesmos princípios de base que a moral impõe aos homens.
A ética humana fundamenta-se essencialmente no valor independente do indivíduo, e o valor moral de uma pessoa humana não deve se medir conforme a utilidade que ela apresenta para os interesses de uma outra pessoa. Tratar seres humanos não levando em consideração seus valores independentes equivale a violar seu direito mais fundamental, o de ser tratado com respeito.
A filosofia dos direitos dos animais exige apenas que se considere a lógica. De fato, qualquer argumento plausível que explica o valor independente dos seres humanos implica o renascimento de modo igual desse mesmo valor nos outros animais.
Exigir para o homem o direito de ser tratado com respeito implica a aplicação desse mesmo direito para o animal.
É evidente que as mulheres, como certos pensadores, e não são poucos, defenderam, não nasceram para ceder aos desejos dos homens, nem os negros para servir aos brancos ou os fracos para submeter-se aos fortes. A filosofia dos direitos dos animais não apenas admite essas verdades, mas ela vai mais longe e justifica-as. Insistindo no valor independente de todo ser vivo, assim como em seus direitos, ela recusa cientificamente e moralmente o argumento segundo o qual os animais existem apenas para nos servir.
Uma vez essa verdade reconhecida, é fácil de compreender porque a filosofia dos direitos dos animais se apóia em critérios intransigentes quando se trata de denunciar as injustiças sofridas pelos animais. No caso dos animais utilizados a fins científicos, seria não apenas justo que as jaulas sejam mais amplas ou mais limpas, elas deveriam estar vazias. Seria necessário exigir não a “humanização” da caça ou das armadilhas, mas de fato a erradicação total dessas práticas bárbaras.
Quando uma injustiça é absoluta, deve-se similarmente opor-se de modo absoluto. Não é a “reforma” da escravidão, nem a “reforma” do trabalho infantil, nem a “reforma” da opressão das mulheres que exigia a justiça, mas de fato sua abolição, a única resposta moral. Contentar-se de reformar parcialmente a injustiça implica prolongá-la.
A filosofia dos direitos dos animais fornece essa mesma resposta, isto é, a abolição pura e simples da exploração injusta de todo animal. Não são os detalhes da exploração injusta dos animais que devem ser mudados, é a exploração injusta em sua plenitude que deve ser abolida, tanto nas fazendas, quanto nos laboratórios e na natureza.

A filosofia dos direitos dos animais não exige nada de mais, mas ela não se satisfará de modo algum com menores medidas.

Texto adaptado de TOM REGAN na FILOSOFIA DOS DIREITOS DOS ANIMAIS.