terça-feira, 4 de junho de 2013
TRAÇÃO ANIMAL: SISTEMA CRUEL E MEDIEVAL
quinta-feira, 16 de maio de 2013
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Consequências da ilusão humana de ser um animal onívoro
Certa vez, durante uma entrevista, um jornalista da rádio Cidade, há cerca de dois anos me perguntou: Johanns, você acha que algum dia a humanidade vai se libertar do consumo de carnes? Eu respondi prontamente que vai, mais cedo ou mais tarde, por bem ou por mal, mesmo porque não há nada de bom senso que justifique o consumo de carne por parte do ser humano; há sim muitos bons motivos que forçam o ser humano a abster-se, definitivamente, do consumo de produtos de origem animal: A produção intensiva de carne, leite e ovos é a atividade humana que mais polui o meio ambiente; as torturas infligidas aos animais não humanos por seus carrascos humanos, durante a criação intensiva, o manejo e o assassinato desses infelizes deve causar muita satisfação e inveja ao satanás, ao constatar a que ponto chegou a perversidade humana institucionalizada numa sociedade cada vez mais decadente, apoiada no materialismo, egoísmo e consumo desenfreado. Além disso, o ser humano é um animal vegetariano, carne, por exemplo, faz mal à sua saúde fisiológica e psicológica, digamos assim.
O gato, que é um animal carnívoro, está devidamente preparado psicologicamente para assassinar uma de suas presas habituais, inclusive uma gata muito dócil que, às vezes, dorme na cama com a pessoa, mas que sempre consegue administrar de modo adequado esses dois comportamentos: ternura e violência. Porém, para o ser humano, matar um boi, um porco ou uma galinha, por exemplo, é um ato substancialmente perturbador, artificial, que desestrutura a sua natureza essencial. Para continuar cultivando esse hábito insano, o de escravizar os animais e em seguida assassiná-los, sentindo bem menos os efeitos colaterais dessa barbárie, o ser humano, nos últimos séculos, desenvolveu um comportamento excessivamente violento que serve para mascarar a artificialidade do ato de matar um animal para alimentar-se de partes dele, ou por ocasião de algum entretenimento macabro humano, as touradas, por exemplo. Isso serve para iludir o ser humano que ele tem estrutura adequada para matar um animal e, na prática, percebe-se que se convive melhor com essas insanidades. Além disso, segundo li num artigo publicado numa revista de medicina, o comportamento excessivamente violento também é influenciado pelo consumo de carne em si, pois tal artigo afirmava que o consumo de carne por parte dos seres humanos torna-os mais violentos, aumenta o apetite sexual, mas também ajuda a provocar a impotência sexual. Porém, naturalmente, o ser humano não consegue administrar de modo adequado esse comportamento excessivamente violento, e assim perde facilmente o controle sobre ele, que se desenvolve como uma bola de neve, que às vezes parece ter vida própria, e como tal luta para permanecer vivo.
A pergunta que se coloca é que se vale realmente a pena continuar cultivando uma sensação bem agradável ao paladar, devido ao consumo de carne, por exemplo, e em troca colaborar, direta e substancialmente, com uma sociedade humana cada vez mais violenta e desequilibrada? Pois, nesse caso, violência traz violência. Não se consegue matar um boi ou um porco com cortesia. O gosto amargo de saber que a escravidão animal cresce cada vez mais, que numerosos animais, a cada dia, são torturados de modo indescritível, deve, ou deveria, ser muito mais amargo que o gosto da alimentação vegetariana. Nesse nosso cenário de tantos desencontros de informações, a palavra chave é autonomia. A pessoa deve fazer o que percebe ser sensato e urgente para tornar a sociedade humana bem menos violenta, embora as pessoas à sua volta, ainda, não o façam.
Encerro este artigo com o seguinte provérbio oriental: "Quem não está preparado para morrer, não está preparado para matar".
Johanns de Andrade Bezerra
Campina Grande, 13 de setembro de 2011
Johanns de Andrade Bezerra
sexta-feira, 11 de março de 2011
CONEXÕES ALTAMENTE PERIGOSAS
Johanns de Andrade Bezerra
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
DIREITO ANIMAL: DIREITO DE NÃO SER ESCRAVO DA HUMANIDADE
Há um trecho de uma das músicas de Raul Seixas que diz o seguinte: “O ser humano virou carrasco e vítima do próprio mecanismo que ele criou”. A espécie humana está na muito incômoda situação de realizar a autoescravização. De modo geral, somos escravos de um sistema social que consegue,com um certo êxito, determinar o que devemos pensar, o que não devemos pensar, o que devemos fazer, o que não devemos fazer,etc. Tornamo-nos, mais ou menos, marionetes, e assim ficamos com pouca capacidade de interferir de modo bem mais substancial no desenrolar da sociedade humana. Somos também escravos das ideias, habilmente gravadas em nossos conjuntos de valores desde criança, que não somos capazes de, sozinhos, libertar-nos de hábitos que nós já percebemos com clareza que nos são muito nocivos, e também ao planeta. Penso que a escravidão que os seres humanos impõem aos animais não humanos só vai poder acabar definitivamente quando cada ser humano passar a agir com suficiente autonomia, pondo fim a essa sutil e avassaladora autoescravização da espécie humana.
No entanto, há outros fatores preponderantes que respondem pela perpetuação da ideia que os animais nascem para servir à humanidade, sem nenhum limite ético considerável para tal prática insana. A grande maioria das pessoas é bem sensível ao sofrimento que são obrigados a suportar burros e cavalos que trabalham como escravos tracionando carroças, e dos bois durante as abomináveis vaquejadas, por exemplo; porém, quase todas essas pessoas não se levantam para dar um basta a tais práticas diabólicas. Mas como fazer isso se desde criança é habilmente gravado em seu conjunto de valores a ideia que animal não humano nasce para servir à humanidade, usando um veículo de fundo religioso para isso. O bem respeitado teólogo católico Thomas de Aquino, que viveu no século XVII ousou escrever e divulgar publicamente: “(...)os animais são para uso do homem; também, sem nenhum prejuízo, este pode servir-se deles, seja matando-os, seja de qualquer outro modo”. Infelizmente, essas propostas muito indecentes eram práticas comuns entre os padres da Europa da idade média, por exemplo. A teia social brasileira foi tecida, durante vários séculos, baseando-se em tais ensinamentos, que vinham com uma roupagem divina para poder ter a devida credibilidade junto à população. Dessa forma, a pessoa para dizer não à escravidão animal, teria que se chocar com ideias que estão arraigadas em seu conjunto de valores, e que têm uma roupagem divina, e contestar um ensinamento divino parece ser uma idiotice; porém é perfeitamente plausível pôr em dúvida que a fonte do ensinamento seja divina, e para tanto é necessário mais autonomia, e mais coragem de cada pessoa para libertar-se da ideia que o ser humano tem o direito de torturar animais não humanos, inclusive no entretenimento humano.
Durante a idade média, na Europa, os bispos católicos pregavam que o sol girava em torno da Terra, pois entendiam que esse era um ensinamento divino, ou queriam dar a entender à população que pensavam assim; porém, pouco a pouco, nas décadas seguintes, esse ensinamento teve que deixar de ser divino, pois foi ficando bem evidente que era uma grande mentira, e a igreja católica teve que mudar de posição porque quase toda a população percebeu que era bem mais aceitável as explicações dos especialistas da época em detrimento das explicações dos bispos. Os ensinamentos religiosos não são estáticos, eles podem mudar, mas para tanto é necessário que haja uma certa revolução no comportamento das pessoas envolvidas diretamente com uma determinada religião. As religiões que apoiam substancialmente a ideia que os animais nascem para servir à humanidade serão cada vez mais pressionadas a defender a ideia aposta se cada vez mais pessoas acordarem desse pesadelo, e decidirem dar um basta à ideia do animal-objeto a serviço do ser humano.
Os animais nascem livres, porém os seres humanos privam bilhões de animais todos os anos desse precioso bem natural, entendendo que dispõem de uma espécie de permissão divina; temo só de pensar se os seres humanos entendessem ter recebido uma espécie de permissão diabólica para lidar com os outros animais.
Johanns de Andrade Bezerra - 5 de agosto de 2010
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
RESPEITAR O ANIMAL: DEVER OU FILOSOFIA
Os animais não humanos que os homens comem, utilizam para a ciência, caçam, capturam e exploram de diferentes maneiras têm uma vida própria que lhes confere uma importância independente da utilidade que eles têm para nós. Eles não estão apenas neste mundo, eles são conscientes do mundo. O que eles sofrem, lhes dizem respeito. Cada um dentre eles conhece uma vida que transcorre bem ou transcorre mal.
A vida dos animais, assim como a dos homens, abrange uma multiplicidade de necessidades biológicas, individuais e sociais. A satisfação dessas necessidades é uma fonte de bem-estar e sua frustração uma fonte de dor. Também os animais não humanos que habitam os laboratórios, as fazendas ou os comércios exigem fundamentalmente as mesmas necessidades que os seres humanos propriamente ditos.
Conseqüentemente, a ética que deve governar nossos contatos com os que nós chamamos, às vezes, nossos “irmãos inferiores” deve apoiar-se nos mesmos princípios de base que a moral impõe aos homens.
A ética humana fundamenta-se essencialmente no valor independente do indivíduo, e o valor moral de uma pessoa humana não deve se medir conforme a utilidade que ela apresenta para os interesses de uma outra pessoa. Tratar seres humanos não levando em consideração seus valores independentes equivale a violar seu direito mais fundamental, o de ser tratado com respeito.
A filosofia dos direitos dos animais exige apenas que se considere a lógica. De fato, qualquer argumento plausível que explica o valor independente dos seres humanos implica o renascimento de modo igual desse mesmo valor nos outros animais.
Exigir para o homem o direito de ser tratado com respeito implica a aplicação desse mesmo direito para o animal.
É evidente que as mulheres, como certos pensadores, e não são poucos, defenderam, não nasceram para ceder aos desejos dos homens, nem os negros para servir aos brancos ou os fracos para submeter-se aos fortes. A filosofia dos direitos dos animais não apenas admite essas verdades, mas ela vai mais longe e justifica-as. Insistindo no valor independente de todo ser vivo, assim como em seus direitos, ela recusa cientificamente e moralmente o argumento segundo o qual os animais existem apenas para nos servir.
Uma vez essa verdade reconhecida, é fácil de compreender porque a filosofia dos direitos dos animais se apóia em critérios intransigentes quando se trata de denunciar as injustiças sofridas pelos animais. No caso dos animais utilizados a fins científicos, seria não apenas justo que as jaulas sejam mais amplas ou mais limpas, elas deveriam estar vazias. Seria necessário exigir não a “humanização” da caça ou das armadilhas, mas de fato a erradicação total dessas práticas bárbaras.
Quando uma injustiça é absoluta, deve-se similarmente opor-se de modo absoluto. Não é a “reforma” da escravidão, nem a “reforma” do trabalho infantil, nem a “reforma” da opressão das mulheres que exigia a justiça, mas de fato sua abolição, a única resposta moral. Contentar-se de reformar parcialmente a injustiça implica prolongá-la.
A filosofia dos direitos dos animais fornece essa mesma resposta, isto é, a abolição pura e simples da exploração injusta de todo animal. Não são os detalhes da exploração injusta dos animais que devem ser mudados, é a exploração injusta em sua plenitude que deve ser abolida, tanto nas fazendas, quanto nos laboratórios e na natureza.
A filosofia dos direitos dos animais não exige nada de mais, mas ela não se satisfará de modo algum com menores medidas.
Texto adaptado de TOM REGAN na FILOSOFIA DOS DIREITOS DOS ANIMAIS.