quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Consequências da ilusão humana de ser um animal onívoro

Certa vez, durante uma entrevista, um jornalista da rádio Cidade, há cerca de dois anos me perguntou: Johanns, você acha que algum dia a humanidade vai se libertar do consumo de carnes? Eu respondi prontamente que vai, mais cedo ou mais tarde, por bem ou por mal, mesmo porque não há nada de bom senso que justifique o consumo de carne por parte do ser humano; há sim muitos bons motivos que forçam o ser humano a abster-se, definitivamente, do consumo de produtos de origem animal: A produção intensiva de carne, leite e ovos é a atividade humana que mais polui o meio ambiente; as torturas infligidas aos animais não humanos por seus carrascos humanos, durante a criação intensiva, o manejo e o assassinato desses infelizes deve causar muita satisfação e inveja ao satanás, ao constatar a que ponto chegou a perversidade humana institucionalizada numa sociedade cada vez mais decadente, apoiada no materialismo, egoísmo e consumo desenfreado. Além disso, o ser humano é um animal vegetariano, carne, por exemplo, faz mal à sua saúde fisiológica e psicológica, digamos assim.

O gato, que é um animal carnívoro, está devidamente preparado psicologicamente para assassinar uma de suas presas habituais, inclusive uma gata muito dócil que, às vezes, dorme na cama com a pessoa, mas que sempre consegue administrar de modo adequado esses dois comportamentos: ternura e violência. Porém, para o ser humano, matar um boi, um porco ou uma galinha, por exemplo, é um ato substancialmente perturbador, artificial, que desestrutura a sua natureza essencial. Para continuar cultivando esse hábito insano, o de escravizar os animais e em seguida assassiná-los, sentindo bem menos os efeitos colaterais dessa barbárie, o ser humano, nos últimos séculos, desenvolveu um comportamento excessivamente violento que serve para mascarar a artificialidade do ato de matar um animal para alimentar-se de partes dele, ou por ocasião de algum entretenimento macabro humano, as touradas, por exemplo. Isso serve para iludir o ser humano que ele tem estrutura adequada para matar um animal e, na prática, percebe-se que se convive melhor com essas insanidades. Além disso, segundo li num artigo publicado numa revista de medicina, o comportamento excessivamente violento também é influenciado pelo consumo de carne em si, pois tal artigo afirmava que o consumo de carne por parte dos seres humanos torna-os mais violentos, aumenta o apetite sexual, mas também ajuda a provocar a impotência sexual. Porém, naturalmente, o ser humano não consegue administrar de modo adequado esse comportamento excessivamente violento, e assim perde facilmente o controle sobre ele, que se desenvolve como uma bola de neve, que às vezes parece ter vida própria, e como tal luta para permanecer vivo.

A pergunta que se coloca é que se vale realmente a pena continuar cultivando uma sensação bem agradável ao paladar, devido ao consumo de carne, por exemplo, e em troca colaborar, direta e substancialmente, com uma sociedade humana cada vez mais violenta e desequilibrada? Pois, nesse caso, violência traz violência. Não se consegue matar um boi ou um porco com cortesia. O gosto amargo de saber que a escravidão animal cresce cada vez mais, que numerosos animais, a cada dia, são torturados de modo indescritível, deve, ou deveria, ser muito mais amargo que o gosto da alimentação vegetariana. Nesse nosso cenário de tantos desencontros de informações, a palavra chave é autonomia. A pessoa deve fazer o que percebe ser sensato e urgente para tornar a sociedade humana bem menos violenta, embora as pessoas à sua volta, ainda, não o façam.

Encerro este artigo com o seguinte provérbio oriental: "Quem não está preparado para morrer, não está preparado para matar".

Johanns de Andrade Bezerra

Campina Grande, 13 de setembro de 2011

Johanns de Andrade Bezerra

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